CORDEL


 
Fauna e flora da caatinga 
Têm valor pro beradeiro.
Servindo como alimento,
Ou de remédio caseiro.
Sempre foi grande riqueza,
Sustentando, com certeza,
Campesino e cangaceiro.

Em meio ao grande sequeiro,
Onde cabrito abre o berro,
Mororó quebrava o galho,
E pau forte era pau-ferro.
Quando os cabras do cangaço,
Ocupavam tanto espaço,
Que não cabe onde hoje encerro.

Se alguma placa descerro,
Neste tema relatado,
Destaco o tejo e o mocó,
Por terem alimentado,
O caboclo do sertão,
Numa hora de precisão,
No tempo mais estiado.

Pelo Sol tão causticado,
O sertanejo sofrido,
Foi buscar no xique-xique
O alimento requerido.
E fez doce do facheiro,
Enquanto que o cangaceiro,
Assaltava qual bandido.

Tomando o recurso havido,
Sem ter comiseração,
O cangaço consumia,
Os dotes da região.
E pra mordida de cobra,
Tirava leite de sobra,
De um simples pé de pinhão.

Para dor no cabeção,
Logo gengibre mascava.
Se tinha dor de garganta,
Chá de formiga tomava.
Mas se reumatismo tinha,
Essa doença continha,
Com a banha qu’ele passava.

Capivara ele matava,
Para retirar a banha.
A asma estando presente,
Caçava com muita manha.
A primeira ema que visse,
Pra que a banha lhe servisse,
E não lhe tirasse a sanha.

Pra quem só pensa que ganha,
O cangaceiro perdia.
Sangue quando era atingido,
Tinha forte hemorragia.
E seguia sempre a dica,
De tomar suco de arnica,
Pois não tomando morria.

Para cardiopatia,
Tomava chá de quiabo.
Havendo prisão de ventre,
O tratamento era brabo.
Da raiz da jitirana,
O chá tomado com gana,
Destampava qualquer rabo.

Desde há muito que me gabo,
Das riquezas naturais.
Com plantas de serventia,
Igualmente aos animais.
Cotando o simples tatu,
Tanto quanto o cururu,
E as ervas medicinais.

Pra vermes intestinais,
Conhecidos por lombrigas,
Erva da cruz era usada,
Fosse na paz ou nas brigas.
Mas verminoses matreiras,
Tinham nas manipueiras,
Efeitos bons sem intrigas.

O contato com urtigas,
Nem sempre era vantajoso.
A coceira que ela dava,
Deixava um bravo choroso.
Mas no trato com a danada,
O cabra usava a mijada,
Sem achar que era seboso.

Lampião, o pabuloso,
Montador de estratagema,
Dizem que cegou um olho
Espetado na jurema.
Embora haja até quem creia,
Que sua cara ficou feia,
Por uma bala suprema.

O grito da seriema,
Já foi prenúncio da chuva.
No tronco do juremal,
Chegou a ser mão e luva.
Hoje desaparecida,
Sobra a terra ressequida,
Que deixa triste a saúva.

Não tendo o sabor da uva,
O sertanejo compensa,
Com seu mel de jandaíra,
Que qualquer doce dispensa.
E na vinda da invernada,
Alegra-se com a florada,
Sabendo da recompensa.

Tendo o silo por despensa
E o anzol por ferramenta,
Sertanejo, de espingarda,
Buscou tudo que alimenta.
De preá até tacaca,
Bicho preso na arataca,
Por cuja carne ele intenta.

Quando a seca violenta,
Dizimava os animais.
Ia buscar seu sustento
Nos mais fortes vegetais.
Que sem as belas matizes,
Guardavam lá nas raízes,
Água, amido e minerais.

Umbuzeiro é um dos tais
Vegetais da providência.
Que dispõem pro sertanejo,
Fontes de sobrevivência.
E sendo, ou não, cangaceiro,
No Nordeste brasileiro,
Deus sempre dará clemência.

Mesmo havendo violência,
Pelos sertões nordestinos,
A vida simples do campo,
Compensava os desatinos.
Mostrando para o cangaço,
Que seu verdadeiro espaço,
Pertencia aos campesinos.

Os rouxinóis, com seus trinos,
Soltaram sons maviosos,
Que levaram paz à terra,
Ante àqueles cães raivosos.
Que viviam do sertão,
Tirando alimentação,
Dos campestres desditosos.

Foram-se os delituosos,
Ficaram lindos gorjeios.
As armas foram depostas,
Surgiram mais nobres meios.
Para alimentar o povo,
Um canto fez-se de novo
Para atender os anseios.


Se constipação havia,
Usava alecrim caseiro.
Pra fraqueza dos pulmões,
O que tomava primeiro.
Era leite de jumenta.
Que, além de curar, sustenta
O mais débil cangaceiro.

Mas um remédio caseiro,
Levantava o matuto,
Feito a base de velame,
Fazia do lerdo astuto.
E do fruto do coqueiro,
Raspa valia dinheiro,
Curando a sarna do bruto.

Semente de um nobre fruto,
Chamado de melancia,
Juntamente com a casca,
Do angico que ali crescia.
Servia de suador,
Numa ausência de doutor,
Quando a febre acontecia.